sábado, 27 de outubro de 2007

A BATALHA DA VERDADE E DO ERRO

Não há palavras adequadas para exprimir o que a alma sente quando se encontra diante dessa presença, muito acima deste mundo (onde o véu da carne esconde, debaixo de uma máscara, as realidades vivas) e muito além do mundo do desejo e da ilusão, onde formas fantásticas e ilusórias nos enganam para que acreditemos que elas são algo muito diferente do que, na realidade, o são. Somente na Região do Pensamento Concreto, onde os arquétipos de todas as coisas unem-se no grande coro celestial, ao qual Pitágoras referiu-se como "a harmonia das esferas", encontramos a verdade revelada em toda sua beleza.
Mas, o Espírito não pode permanecer lá para sempre. Esta verdade e esta realidade - tão ardentemente desejadas por todos que foram conduzidos a esta procura por uma necessidade interna mais forte do que os laços de amizade, parentesco ou outra consideração qualquer são apenas meios para atingirmos um fim. A verdade deve ser trazida para este reino de forma física, a fim de que possa ser um valor real no trabalho do mundo. Portanto, Siegfried, o que busca a verdade, deve necessariamente deixar a rocha de Brunilda, retornar através do fogo da ilusão e reentrar no mundo material para ser provado e tentado, comprovando sua fidelidade aos juramentos de amor trocados entre ele e a recém-acordada Valquíria.
É dura a batalha que o espera. O mundo não está preparado para a verdade e, embora afirme veementemente seu desejo nessa direção, continua planejando e conspirando por todos os meios ao alcance de seu grande poder, para derrubar quem quer que traga a verdade até suas portas, pois existem poucas instituições capazes de suportar o deslumbrante brilho de sua luz.
Nem mesmo os deuses podem suportar esse brilho, como, para sua tristeza, constatou Brunilda, pois não foi ela exilada por Wotan, por ter se recusado a usar seu poder a favor do convencionalismo? E quem se insurgir contra o, convencionalismo para apoiar a verdade, verá que todo o mundo está contra si e que deve permanecer sozinho. Wotan era seu pai e jurou amá-la ternamente. Ele a amava a seu modo, mas apreciava mais o poder simbolizado por Valhal. O Anel do Credo, com o qual dominava a humanidade, era mais desejável a seus olhos do que Brunilda, o espírito da verdade, por isso ele a adormece atrás do círculo flamejante da ilusão.
Se esta é a atitude dos deuses, o que podemos esperar dos homens que não professam ideais elevados e nobres, e que os deuses, como sentinelas da religião, deveriam ter-lhes transmitido? Tudo isto e muito mais do que podemos pôr em simples palavras - sobre as quais o estudante deveria meditar - passou pela mente de Brunilda no momento de se separar de Siegfried e, para lhe dar pelo menos uma chance na batalha da vida, ela lhe magnetiza todo o corpo para torná-lo invulnerável. Todas as partes são assim protegidas, menos um ponto nas costas, entre os ombros. Aqui temos um caso análogo ao de Aquiles, cujo corpo foi tornado invulnerável, exceto num de seus calcanhares. Há um grande significado neste fato, pois, enquanto o soldado da verdade usar sua armadura, da qual nos fala Paulo, na batalha da vida, e corajosamente enfrentar seus inimigos, é certo que, não importa quão duramente seja assediado, finalmente vencerá. Enfrentando o mundo e expondo seu peito às flechas do antagonismo da calúnia e da difamação, ele demonstra que tem a coragem de suas convicções e sabe que existe um poder mais elevado que ele, o poder que está sempre trabalhando para o bem, que o protege por maior que seja a violência que enfrente. Mas, a qualquer momento, um infortúnio poderá advir se ele virar suas costas, porque, quando não estiver atento ao ataque violento dos inimigos da verdade, eles encontrarão o ponto vulnerável, esteja no calcanhar ou entre os ombros. Portanto, convém-nos e a quem ame a verdade, tirar uma lição desta maravilhosa simbologia, e compreender a responsabilidade de amar a verdade acima de tudo. Amizade, parentesco e todas as outras considerações não deveriam ter nenhuma influência sobre nós, comparadas com este grande trabalho com a verdade e pela verdade. Cristo, que era a própria incorporação da verdade, disse a Seus discípulos, "Eles me odiaram e vos odiarão".
Portanto, não nos iludamos: o caminho da integridade é uma estrada acidentada e é árduo o trabalho da subida. No caminho poderemos provavelmente perder prestígio com todos os que nos são queridos e estão perto de nós. Embora o mundo confesse admitir a liberdade de religião, os dias de perseguição ainda não acabaram. Credo e dogmatismo ainda detêm o poder, prontos para julgar e perseguir quem não seguir as linhas do convencionalismo. Enquanto os enfrentarmos e prosseguirmos em nosso caminho, apesar das críticas, a verdade sempre sairá incólume da batalha. Somente quando nos mostramos covardes é que essas forças inimigas conseguem desferir o golpe de morte através deste ponto vulnerável.
Outra consideração: quando Siegfried abandona a rocha da Valquíria para reentrar no mundo, ele dá a Brunilda o Anel do Niebelungo. Lembremo-nos que este Anel foi formado com o Ouro do Reno - o ouro representa o Espírito Universal - por Albérico, o Niebelungo. Também lembremos que ele não poderia moldar esta pepita enquanto não abjurasse do amor, pois a amizade e o amor cessavam quando o Espírito Universal era circundado pelo anel do egoísmo. Desde então, a batalha da vida foi ferozmente declarada: a luta de irmão contra irmão por causa do egoísmo, que impele cada um a procurar seu próprio interesse sem levar em conta o bem estar do outro.
Mas, quando o Espírito encontra a verdade e entra em contato com as realidades divinas; quando penetra na Região do Pensamento Concreto que é o céu, e percebe esta única grande verdade -que todas as coisas são uma - e que, embora pareçam estar separadas aqui, há um fio invisível unindo cada uma a todas; quando o Espírito tiver assim reconquistado universalidade e amor, não poderá mais ser separado. Portanto, quando entra no reino da verdade, ele abandona o sentimento de separatividade e de egocentrismo simbolizado pelo Anel, e adquire uma grandeza maior, semelhante a de Thomas Paine, quando disse: "O mundo é minha pátria; fazer o bem é minha religião." Esta atitude mental é representada alegoricamente quando Siegfried dá a Brunilda o Anel do Niebelungo.
Lembremo-nos que as Valquírias eram filhas de Wotan, o deus principal da mitologia nórdica. Cavalgavam pelo ar, à grande velocidade, para qualquer lugar onde estivessem sendo travados combates mortais, fossem entre duas ou mais pessoas. Logo que o combatente caia morto, elas o erguiam carinhosamente colocando-o em suas selas e o levavam para o Valhal, a morada dos deuses, onde era ressuscitado e viveria em paz para todo o sempre. Lembremo-nos que o nome Valquíria foi interpretado como escolhido por aclamação. Aqueles que lutavam a batalha da vida até o fim eram escolhidos, por aclamação, para serem os companheiros dos deuses.
Brunilda era a chefe destas filhas de Wotan, e seu cavalo Grane era o mais veloz dos corcéis. Este animal, que tinha tão fielmente transportado o espírito da verdade, ela o deu ao seu marido, pois a verdade é considerada a noiva daquele que a encontrou. O cavalo é o símbolo da velocidade e da decisão e quem tiver desposado a verdade está capacitado para escolher acertadamente e distinguir a verdade do erro - contanto que se conserve fiel.
Com o amor da verdade em seu coração e montando o corcel do discernimento, Siegfried parte para lutar a batalha da verdade e trazer o mundo cativo para os pés de Brunilda. Céu e Terra estão na balança, pois ele pode revolucionar o mundo se for fiel e corajoso; mas, se esquecer sua missão e ficar enredado na esfera da ilusão, a última esperança de redimir o mundo estará perdida. O crepúsculo dos deuses estará próximo quando o presente estado de coisas for desfeito, quando os céus se derreterem no calor ardente para que, da agonia da Natureza, possa nascer um Novo Céu e uma Nova Terra, onde a virtude, como um manto, envolverá tudo e todos.
Voltemos agora nossos olhos do céu, de Siegfried e de Brunilda para a Terra, onde o mundo, que a verdade vai libertar, espera pelo herói que está chegando. O mito nórdico introduz-nos na corte de Gunther, um rei honesto e justo de acordo com os padrões do mundo. Sendo solteiro, sua irmã Gutrune é a maior personagem feminina do reino. Entre os cortesãos está Hagen, um nome que significa gancho, demonstrando um egoísmo inerente. É um descendente dos Niebelungos, aparentado com Albérico que moldou o Anel fatal. Desde o dia em que perderam a posse desse Anel, os Niebelungos vigiaram de perto os seus possuidores: primeiro Wotan, que enganou AIbérico e roubou-lhe o Anel; depois Fafner e Fasolt, os gigantes que construíram Valhal para Wotan e que forçaram-no a entregar-lhes o Anel como parte do pagamento do resgate de Freya, a deusa do amor e da juventude, a quem Wotan prostituiu e vendeu por causa do poder. Quando Fafner assassinou Fasolt, os Niebelungos vigiaram de perto a caverna onde o assassino estava estendido sobre o tesouro oculto do Niebelungo, como um enorme dragão. Mime, o pai adotivo de Siegried, pagou com sua vida por tramar obter a posse do cobiçado tesouro. Nem Siegfried se encontrava a salvo da atenta: vigilância deles, a não ser quando estava na rocha da Valquíria, pois nenhum Niebelungo, nem alguém que seja vil ou covarde, pode penetrar no reino da verdade além do círculo flamejante da ilusão. Portanto, os Niebelungos não sabem o que aconteceu com o Anel quando Siegfried surge novamente no mundo, embora suponham que tenha ficado com Brunilda e, imediatamente, começam a planejar como obtê-lo.
A corte de Gunther situa-se exatamente no caminho que Siegfried percorre e Albérico apressa-se, correndo à frente, para informar Hagen que o último possuidor do Anel está chegando. Juntos, tramam como obter o anel, mas, cada um, em seu negro coração, também planeja como lograr o outro e obter o tesouro somente para si. Não há honra na batalha do eu separado, mas aqui cada um é contra todos os outros, sem levar em conta quem eles são. Embora no mundo encontremos cooperação para um objetivo comum, a pergunta principal que ainda está na mente de todos é: "O que eu posso lucrar com isto?" A não ser que haja uma recompensa clara e pessoal à vista, a maioria da humanidade reluta em trabalhar em favor dos outros. O apóstolo nos diz, "não atente cada um para o que é propriamente seu, mas também para o que é dos outros". Temos procurado estar em harmonia intelectual com o pensamento cristão, mas, quão poucos estão dispostos a cumprir com o ideal de servir altruisticamente.

2 comentários:

arrudadonascimento disse...

A Bíblia afirma que a nossa luta "não é contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Efésios 6:12).
Isso quer dizer que não adianta lutarmos com nossas próprias forças porque assim não iremos vencer, pois existem vários anjos do mau (demônios) lutando contra nós para nos afastar da presença de Deus e nos destruir...é uma força espiritual malígna que precisa ser combatida não pela força do braço ou pela inteligência humana mas pela fé, através do poder que há no nome do Senhor Jesus Cristo.

arrudadonascimento disse...

Deus não é homem para que minta.
"Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo Ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o cumprirá?" ( Números 23:19 )
ESSA BATALHA NÃO EXISTE ERROS ALELUIA JESUS TE AMA EU TBM